Exercícios físicos e aspectos cerebrais, uma jornada para entender

Exercício físico e cérebro
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Eu me recordo da primeira vez em que percebi como o corpo e a mente dialogam de forma surpreendente. Ao incluir caminhadas regulares pela manhã, notei um vigor inesperado ao enfrentar tarefas complexas durante o dia. As leituras, o trabalho que eu tenho, tudo isso melhorou quando eu comecei a fazer uma caminhada. A respiração ritmada enquanto meus pés tocavam o chão parecia abrir espaço para ideias mais claras, como se cada passo também ativasse caminhos internos do meu cérebro. Essa sensação me convidou a investigar o que estava acontecendo com o meu corpo. Um simples ato de movimentar otimizar processos cerebrais ligados a memória e ao aprendizado.

Logo ficou evidente que o exercício não se resume a queimar calorias. Existe uma confluência de fenômenos biológicos que remodelam estruturas cerebrais também, principalmente em regiões essenciais para orientações espaciais. Quando corro, sinto que meu cérebro, ou regiões do tipo hipocampo, um laboratório íntimo onde nascem e se consolidam recordações de rotas e mapas mentais, recebe estímulos capazes de tornar essas lembranças mais precisas. É curioso como, depois de um período de prática regular, encontro menor dificuldade em memorizar trajetos novos. Mas será que isso é real? Ou pode ser algo relacionado a placebo? Um estudo bem interessante(1) que encontrei sobre como correr melhora a neurogênese, o aprendizado de longo prazo em ratos e isso me fez questionar como isso se reflete em nós humanos.

Observando pessoas de diferentes idades, vi adultos mais velhos relatarem facilidade ao lembrar da localização de objetos em casa. Muitos confessaram que, mesmo sem muita disciplina em academias, ao caminhar diariamente começaram a perceber melhorias nesse tipo de memória. E isso realmente faz sentindo, existe bastante estudo que relaciona a melhora cognitiva em idosos, tanto exercícios aeróbicos(2), como exercícios de resistência(3). Percebi ainda que, quando incluí rotinas de resistência muscular, como exercícios com pesos leves, surgiu outra dimensão de benefícios. A combinação entre atividades aeróbicas e de força parece trabalhar vias distintas, mas complementares, do cérebro, dando mais consistência às minhas impressões de espaço e orientação.

Durante uma sessão de treino com pesos, senti meus músculos responderem imediatamente, mas notei também um efeito mais sutil que se manifestou dias depois. Quando retornei ao estudo de matemática que gosto de passar meu tempo, meu cérebro criou uma facilidade impressionante de fazer cálculos. Foi como se aquela sessão de força tivesse ativado a produção de substâncias que promovem o crescimento de neurônios. E continuo tentando refletir, será que é impressão minha? Eu observei em um estudo bem interessante sobre o fator de crescimento semelhante à insulina 1 ou também chamado de IGF-1, ele aumenta o número de novos neurônios no hipocampo, por exercício(4)

Pesquisando mais um pouco, descobri que certas moléculas durante o esforço físico funcionam como mensageiras. Elas estimulam a formação de novas conexões sinápticas e até o nascimento de células nervosas em áreas específicas.(5) Quando entendo o funcionamento desses mensageiros, queda por queda de suor ganha um novo sentido. Cada gota se converte em um impulso para fortalecer a rede neuronal responsável por aprender e memorizar. E isso é maravilhoso. Cada novo treino você está se protegendo de mal de Alzheimer.

Em treinos de corrida, algo me chamou a atenção, ao reduzir a velocidade nas últimas voltas, meu ritmo cardíaco mantinha-se elevado, mas meu cérebro parecia mais alerta. Passei a usar esse momento para revisar mentalmente conceitos que havia aprendido no dia anterior. A sensação era de que aquele estado pós-treino criava uma janela ideal para consolidar informações. Percebi que não era apenas um sentimento subjetivo, talvez minha dopamina, noradrenalina, e serotonina estivesse aumentando, em alguns estudos(6) existem novos insights para como ele pode estimular processos cerebrais.

Conversei com outras pessoas que faziam corridas ou praticavam alguns exercícios que tinham horários variados. Muitos preferiam correr de manhã cedo, antes de qualquer atividade mental intensa. Outros reservavam finais de tarde para combinar estudo e exercício. Alguns deles comentaram comigo terem notado ganhos em memorização, de números ou no melhor aprendizado de idiomas. Mas eles não deram muita importância a isso. Poderia ter sido um conjunto de outros fatores, não é? Mas isso é muito interessante de refletir também, e pensar sobre. Pode ser que exista uma conexão entre corpo, movimento e consolidação de dados no cérebro.

A disciplina de manter rotina de treinos revelou-se tão vantajosa para minhas recordações de cada coisa que passou em minha vida quanto para tarefas diárias. Lembro-me de viagens que fiz antigamente, como de tarefas de semanas atrás. É algo bastante interessante de pode analisar, as ruas e as casas ficaram um pouco mais nítida para mim. Foi estranho descobrir que, mesmo diante de cantos complexos, meu cérebro elaborava mapas internos que me guiavam com segurança.

Dentro de mim cresceu a convicção de que cada modalidade de exercício traz um efeito singular. Mas é claro, tem alguns estudos interessante que pode até sugerir algumas coisas. A corrida oferece estímulos aeróbicos que favorecem a irrigação sanguínea cerebral, fortalecendo vasos e ampliando o aporte de oxigênio.(6) A musculação, por sua vez, ativa circuitos de liberação de fatores de crescimento capazes de promover adaptações neurais.(7) Ao mesclar ambos, senti-me beneficiado em vários níveis, como se meu cérebro se alimentasse de sangue renovado e de sinais bioquímicos potentes.

Ao compartilhar essas impressões com amigos, vi alguns se surpreenderem ao perceber que não existia contraste entre praticar atividade física e desenvolver habilidades cognitivas. Eles pensavam que o exercício tornaria o corpo saudável, mas não imaginavam as repercussões no cérebro. Talvez até imaginavam, mas não focavam nisso, porque o corpo saudável, o cérebro também fica saudável.

Em um projeto pessoal, decidi documentar minhas rotinas de treino e, ao final de cada semana, fazia um breve relato das melhores recordações daquele período. Descobri que, nas semanas em que mantinha consistência de treinos, as lembranças de detalhes do cotidiano apareciam com mais nitidez. Era curioso notar que até pequenos fatos, como paisagens observadas em percursos urbanos, ficavam presos na minha mente com traços mais nítidos.

Enquanto desenvolvia esses hábitos, percebi que o bem-estar emocional também evoluía. Mas isso é um pouco nítido, todos nós sabemos que exercícios físicos podem nos proporcionar uma sensação de bem-estar. Com uma sensação meio que de preocupação, a melhor coisa era fazer um trajeto pelas ruas que já sentia uma ativação de circuitos interiores que filtrava as tensões. E é claro que no retorno, eu sentia calma e tinha clareza sobre problemas antes nebulosos. A relação entre movimento e bem-estar cognitivo se expressava não apenas em memórias espaciais, mas em estados equilibrados.

Com o passar dos meses, entendi que a prática deveria ser constante para manter ganhos. Quando eu ficava semanas sem me exercitar, notava perda de precisão em lembranças espaciais. O cérebro parecia exigir estímulos regulares para sustentar as estruturas neurais criadas. Voltar aos treinos devolvia o vigor mental e reacendia o prazer de percorrer novas rotas cognitivas. E isso era o mais interessante.

Descobri que, mesmo em dias de menor disposição, um breve período de bicicleta ergométrica por quinze minutos ou menos pode reativar circuitos que promovem memória e clareza. Esse conhecimento transformou minha rotina, pois passei a usar sessões rápidas de exercício como forma de retomar o ritmo mental. A noção de que pequenos gestos trazem retornos significativos reforçou meu compromisso com o cuidado corporal.

Hoje sei que o exercício físico funciona como um tipo de catalisador de neuroplasticidade, sem depender de recurso externo além do próprio corpo em movimento. Cada gota de suor contribui para a remodelagem de circuitos que sustentam o aprendizado, a memória e o equilíbrio emocional. E isso se torna fascinante. É claro que muitos vão focar mais em bem-estar todo dos exercícios, mas nesta postagem eu queria relacionar mais as minhas experiências com os aspectos cerebrais. Se você procurar mais artigos vai encontrar ainda mais pesquisas relacionadas. E mesmo que se você só focar em bem-estar dos exercícios, vai ganhar de bônus um melhor benefício cognitivo.


Referências:

1 - Exercise enhances learning and hippocampal neurogenesis in aged mice  - Estudo demonstra que exercícios aumenta a neurogênese do hipocampo contribuindo para a melhora do aprendizado. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16177036/

2 - Spatial memory is improved by aerobic and resistance exercise through divergent molecular mechanisms - Este estudo demonstra que exercícios aeróbicos e de resistência melhoram a memória espacial por meio de diferentes mecanismos moleculares. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22155655/

3 - The impact of resistance exercise on the cognitive function of the elderly - Esta pesquisa avalia como o treinamento de resistência afeta a função cognitiva em idosos. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17762374/

4 - Circulating insulin-like growth factor I mediates exercise-induced increases in the number of new neurons in the adult hippocampus - Este estudo investiga como o IGF-I circulante medeia o aumento de novos neurônios no hipocampo adulto induzido pelo exercício. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11222653/

5 - Hippocampal BDNF mediates the efficacy of exercise on synaptic plasticity and cognition - Este artigo explora como o BDNF no hipocampo influencia a eficácia do exercício na plasticidade sináptica e cognição. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15548201/

6 - Prolonged exercise induces angiogenesis and increases cerebral blood volume in primary motor cortex of the rat - Este estudo mostra que exercícios prolongados induzem angiogênese e aumentam o volume sanguíneo cerebral no córtex motor primário de ratos. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12654355/

7 - Effects of resistance training on insulin-like growth factor-I and IGF binding proteins - Esta pesquisa analisa os efeitos do treinamento de resistência nos níveis de IGF-I e suas proteínas ligantes. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11283443/


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