As emoções e a amígdala cerebral

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As emoções são importantes para nossa sobrevivência e adaptação ao ambiente. Desde a antiguidade, nossas reações emocionais têm sido essenciais para enfrentar desafios e perigos e tomar decisões rápidas e fundamentais. E isso foi um processo natural que reflete atualmente. Nesse cenário, a amígdala, uma estrutura no cérebro, se destaca em respostas emocionais. Existem outras partes do cérebro que podem influenciar sentimentos e emoções, mas vamos nos concentrar aqui na amígdala, ela é uma parte do cérebro interessante de se conhecer.

A amígdala é geralmente chamada de centro emocional do cérebro. Localizada na parte onde ficam os lobos temporais, essa estrutura complexa está envolvida em processar e atribuir valor emocional às experiências sensoriais e está sempre ativa, integrando informações e influenciando nossas reações e decisões. Como uma pequena estrutura pode influenciar grandes percepções à nossa volta? Tomamos uma decisão ou temos reações comportamentais, e é a amígdala que dá um impulso para isso.

Estrutura e Função

A amígdala é composta por vários núcleos, cada um com suas funções específicas. A parte lateral, por exemplo, recebe e processa informações sensoriais de diferentes partes do cérebro. Das informações que vai sendo obtida passa por essa região. Essas informações são então enviadas para outras partes, como a basal, que ajuda a formar nossas respostas emocionais e de memória. E é nessa região que vai sendo processado e construído as emoções, desde reações de instinto até decisões elaboradas.

Além das partes laterais basal, a amígdala também possui a parte corticomedial, que inclui as partes central e medial. Essas partes desempenham um papel na regulação das funções automáticas e endócrinas, influenciando respostas físicas, como a aceleração do batimento cardíaco em situações de medo. Quando acontece uma situação  em que seu coração começa a acelerar, é de lá que vem a resposta. É uma importante resposta para sobrevivência, em situações de perigo é o nosso corpo se preparando para luta ou fuga diante de ameaças.

A função da amígdala não se limita apenas à resposta ao medo, outro importante processo é de aprendizagem emocional e memória emocional. É através da plasticidade sináptica que a amígdala pode fortalecer ou enfraquecer conexões neuronais com bases em experiências passadas. E isso é ajustado para futuras reações a estímulos similares. Você passa por uma situação e então tem uma resposta, e se cria uma memória de experiência, e em situações futuras o cérebro pode dar a mesma resposta passada totalmente automática. Essa capacidade se torna muito importante, ela permite que possamos aprender com o passado para se preparar para o futuro.

Teorias sobre a Emoção

As emoções sempre entraram em um campo de debates, desde as teorias clássicas até as atuais que tentam explicar a relação entre o corpo e pensamentos e de como surgiram cada sensação que sentimos. É claro que hoje em dia várias teorias do campo da neuropsicologia tem revelado um entendimento sobre como funcionam as diversas reações de nosso comportamento. Vamos conhecer algumas delas.

Teoria de James-Lange:  Proposta por William James e Carl Lange, esta teoria sugere que as emoções são o resultado de mudanças fisiológicas no corpo. Por exemplo, sentimos medo porque nosso corpo reage fisicamente a um estímulo ameaçador.

Teoria de Cannon-Bard: Walter Cannon e Philip Bard desafiaram a teoria de James-Lange, argumentando que as emoções e as respostas fisiológicas ocorrem simultaneamente e independentemente. Assim, ao ver um perigo, sentimos medo ao mesmo tempo que nosso corpo reage.

Hipótese do Marcador Somático: O médico e neurologista António Damásio introduziu a hipótese do marcador somático, que propõe que nossas decisões são influenciadas por marcadores somáticos, ou sinais corporais, baseados em emoções passadas, ajudando a prever os resultados de diferentes ações.

Teoria das Emoções Construídas: Lisa Feldman Barrett propôs que as emoções não são universais, mas construídas socialmente. Segundo essa teoria, o cérebro utiliza experiências passadas e contextos sociais para categorizar e interpretar sentimentos, sugerindo que as emoções são moldadas culturalmente.

Considerações finais

Agora você compreendeu um pouco de como é o processamento emocional e a estrutura cerebral que é a amígdala. E isso é um passo de como entender as emoções influenciando a cognição e o comportamento. O artigo é para te fornecer uma visão geral das funções da amígdala, agora busque algumas informações e se aprofunde ainda mais nesta parte neurobiológica.

 


Referências

Neurobiologia das emoções: https://www.scielo.br/j/rpc/a/t55bGGSRTmSVTgrbWvqnPTk/

Resumo sobre a amígdala cerebral: https://med.estrategia.com/portal/conteudos-gratis/resumo-sobre-a-amigdala-cerebral-anatomia-funcoes-e-mais/

Compreendendo as emoções: origens e funções da amígdala: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8228195/

Teoria de James-Lange: https://en.wikipedia.org/wiki/James%E2%80%93Lange_theory

Teoria Cannon-Bard: https://en.wikipedia.org/wiki/Cannon%E2%80%93Bard_theory

Hipótese do marcador somático: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3tese_do_marcador_som%C3%A1tico

Teoria das Emoções Construídas: https://en.wikipedia.org/wiki/Theory_of_constructed_emotion

 

 

Um breve estudo sobre Neuropsicologia

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A Neuropsicologia, a Neurofisiologia e a Neuroanatomia são campos fascinantes, entender como os processos mentais e de como nosso cérebro funciona realmente é muito interessante. Os diferentes neurotransmissores responsáveis por cada função que você possa sentir, influenciando sua capacidade de raciocínio, sua vida social e muito mais. A percepção também pode fazer você interpretar o ambiente, é algo muito importante de entender. É claro que todas as coisas no nosso organismo podem influenciar cada sensação do que sentimos ou de como interpretamos, e pode ser uma motivação para várias ações que podemos ter. Vamos primeiramente nos concentrar nos aspectos do cérebro para entender melhor cada coisa. 

Uma Visão Geral

Neuropsicologia, neurofisiologia e neuroanatomia são campos interconectados que, em conjunto, oferecem uma compreensão profunda do cérebro humano e seu impacto no comportamento e nas funções cognitivas. Ambas oferecem um grande entendimento de como o cérebro funciona e como ele se comporta em cada função.

A neuropsicologia busca compreender como a atividade cerebral se traduz em comportamento observável, dividindo-se em neuropsicologia clínica e neuropsicologia experimental.  A neuropsicologia clínica foca no estudo de pacientes com lesões cerebrais, correlacionando danos específicos a déficits funcionais. Ela ajuda a entender cada lesão do paciente e orientá-lo em seu tratamento. Já a neuropsicologia experimental investiga indivíduos com cérebros intactos como também com lesão para entender as bases neurais das funções cognitivas através de técnicas laboratoriais. Vários experimentos da neuropsicologia experimental têm revelado mais sobre como o cérebro funciona, contribuindo significativamente sobre as funções do cérebro.

A neurofisiologia explora o funcionamento e a comunicação das células nervosas. Os neurônios, unidades básicas do sistema nervoso, transmitem sinais elétricos e químicos. A comunicação entre os neurônios ocorre através de estruturas chamadas sinapses. Nessas regiões, os neurônios liberam substâncias químicas conhecidas como neurotransmissores, que se ligam a receptores específicos nas células-alvo. Esse processo permite a transmissão de informações de um neurônio para outro. O processo de comunicação neuronal é fundamental para todas as atividades do organismo, desde a percepção sensorial, a cognição e a tomada de decisões, até o controle dos movimentos e das funções fisiológicas. Compreender esse mecanismo é essencial para o estudo do funcionamento do sistema nervoso e para o desenvolvimento de tratamentos para distúrbios neurológicos.

A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, abrangendo desde a organização macroscópica até a estrutura microscópica. O cérebro é composto por vários componentes, incluindo o córtex cerebral, o cerebelo e o tronco encefálico que são muito importantes. Cada um desses componentes desempenha funções específicas e interage com outros para permitir a execução de funções cognitivas, motoras e sensoriais fundamentais para o indivíduo. A neuroanatomia também investiga as vias neurais que conectam diferentes regiões do cérebro e a circulação sanguínea que fornece oxigênio e nutrientes às células cerebrais. Esses elementos são essenciais para a saúde cerebral e a execução de suas funções.

A integração entre neuropsicologia, neurofisiologia e neuroanatomia é muito importante para entender o cérebro e seus aspectos comportamentais. Enquanto a neuropsicologia oferece um entendimento sobre como lesões cerebrais afetam o comportamento, a neurofisiologia explica os mecanismos de comunicação celular, e a neuroanatomia fornece o mapa estrutural do cérebro. Juntas, permitem uma compreensão abrangente do cérebro humano.

Neurofisiologia Básica

Entender a neurofisiologia é fundamental para qualquer um que deseje compreender o funcionamento do cérebro. Vamos abordar para termos um conhecimento.

Sistema Nervoso

O sistema nervoso é dividido em duas partes principais: o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). Essas divisões são fundamentais para entender como o sistema nervoso processa e transmite informações. O SNC é composto pelo cérebro e pela medula espinhal. Essas estruturas são responsáveis por processar e interpretar informações sensoriais e enviar comandos motores. O SNC é a parte mais complexa do sistema nervoso e é responsável por funções como a percepção, a cognição, a emoção e a motricidade.

O SNP conecta o SNC ao resto do corpo, transmitindo sinais sensoriais e motores. Ele é composto por nervos que saem do SNC e se espalham pelo corpo, permitindo a comunicação entre o SNC e as diferentes partes do organismo. O SNP é responsável por transmitir informações sensoriais, como dor, temperatura e pressão, desde as extremidades do corpo até o SNC. Ele também transmite comandos motores desde o SNC até os músculos e ossos, permitindo a execução de movimentos e ações.

Estrutura e Função dos Neurônios

Os neurônios são as unidades funcionais do sistema nervoso, responsáveis por transmitir e processar informações. Cada neurônio é composto por três principais estruturas: o corpo celular, os dendritos e o axônio. Os dendritos são estruturas que recebem sinais de outros neurônios. Esses sinais são transmitidos por meio de sinapses, onde neurotransmissores são liberados e se ligam a receptores específicos nos dendritos. Já o axônio é a estrutura que transmite os sinais recebidos dos dendritos para outros neurônios ou células efetoras. Ele é responsável por conduzir os impulsos nervosos ao longo do sistema nervoso.

A mielinização é um processo que envolve a deposição de uma substância lipídica chamada mielina em torno do axônio. Essa substância é produzida por células gliais, como os oligodendrócitos e as células de Schwann. A mielinização é muito importante para a condução rápida e eficiente dos impulsos nervosos. É ela que permite que os impulsos nervosos sejam transmitidos com rapidez e eficiência, pois a mielina ajuda a isolar o axônio e a reduzir a resistência elétrica. Isso permite que os impulsos nervosos sejam conduzidos a uma velocidade mais rápida e precisa, permitindo que o sistema nervoso execute suas funções com eficácia.

A Comunicação Neuronal e a Neurotransmissão

A comunicação entre neurônios é um processo complexo que ocorre através de sinapses, onde neurotransmissores são liberados e se ligam a receptores específicos na célula pós-sináptica. Esse processo é fundamental para a transmissão de informações no sistema nervoso. O potencial de ação é uma mudança rápida no potencial elétrico da membrana do neurônio que propaga o sinal ao longo do axônio. Ele é responsável por transmitir o sinal de um neurônio para outro.

A neurotransmissão é um processo que envolve várias etapas Ela ocorre em três etapas que que são Liberação: Os neurotransmissores são liberados pela terminação do axônio em uma sinapse; Ligação: Os neurotransmissores se ligam a receptores específicos na membrana da célula pós-sináptica; Remoção: Os neurotransmissores são removidos da sinapse, permitindo que o processo seja repetido.

A neurotransmissão é essencial para a comunicação neuronal e para a transmissão de informações no sistema nervoso. Ela permite que os neurônios se comuniquem entre si e que as informações sejam processadas e armazenadas.

Tipos de Neurônios e Células Gliais

O sistema nervoso é composto por diferentes tipos de neurônios e células gliais, cada um desempenhando funções específicas no processamento e transmissão de informações. Os neurônios axonais: Responsáveis por transmitir informações sensoriais, como toque, temperatura e dor, do corpo para o sistema nervoso central; Os neurônios motores: Transmitem comandos do sistema nervoso central para os músculos, permitindo a execução de movimentos. Os interneurônios: Localizam-se no sistema nervoso central e são responsáveis por processar e integrar informações entre os neurônios sensoriais e motores.

Células Gliais

As células gliais desempenham papéis muito importantes no suporte e manutenção do ambiente neuronal. Vejamos alguns tipos de células gliais. Os astrócitos: Fornecem suporte metabólico e estrutural aos neurônios;  Os oligodendrócitos e células de Schwann: Responsáveis pela mielinização dos axônios, aumentando a velocidade de condução dos impulsos nervosos;  As células microgliais: Atuam na defesa imunológica do sistema nervoso central, removendo células danificadas e agentes patogênicos. Cada tipo de célula desempenha um papel específico para a percepção, cognição, movimento e manutenção da saúde do sistema nervoso.

O Potencial de Ação e a Comunicação Neuronal

O potencial de ação é um fenômeno fundamental na comunicação neuronal, ocorrendo quando um neurônio é suficientemente estimulado. Isso resulta na abertura de canais de sódio e a subsequente entrada de íons de sódio na célula, despolarizando a membrana e gerando um impulso elétrico. 

O potencial de ação é formado pela abertura de canais de sódio. A estimulação do neurônio abre canais de sódio na membrana, permitindo a entrada de íons de sódio. A entrada de íons de sódio despolariza a membrana, gerando um impulso elétrico. O impulso elétrico se propaga ao longo do axônio, permitindo a transmissão de informações.

Liberação de Neurotransmissores

Na terminação axonal, o impulso elétrico provoca a liberação de neurotransmissores na sinapse. Esses neurotransmissores se ligam a receptores específicos na célula pós-sináptica, continuando o ciclo de comunicação neuronal.

Ciclo de Comunicação Neuronal

Assim que o neurônio é estimulado e gerando o potencial de ação, a abertura dos canais de sódio permite a entrada de íons de sódio gerando a despolarização da membrana. Logo em seguindo o impulso elétrico se propaga ao longo do axônio, a terminação axonal libera neurotransmissores na sinapse. Os neurotransmissores se ligam a receptores específicos na célula pós-sináptica, e continua o ciclo de comunicação neuronal, permitindo a transmissão de informações entre os neurônios.

Neuroanatomia básica

Agora que temos uma visão de como a Neurofisiologia funciona vamos partir para a Neuroanatomia. Este campo de estudo envolve a análise das diversas estruturas do sistema nervoso e suas funções, e compreender todo o fascinante processo no corpo humano é muito importante.

A Neuroanatomia pode parecer um desafio devido à terminologia complexa e às múltiplas línguas que influenciam seus termos. No entanto, familiarizar-se com os termos anatômicos é o primeiro passo para entender a organização e a função do cérebro. Você pode buscar na internet a definição dos termos abordados aqui, livros também são sempre importante para serem consultados. Existem muitas aulas de neuroanatomia e anatomia da internet e podem te dar clareza de como funciona a terminologia. Alguns termos como posicionais são usados para descrever a localização das estruturas no cérebro. Por exemplo, "dorsal" refere-se à parte superior, enquanto "ventral" se refere à parte inferior. "Lateral" significa para o lado, e "medial" indica direção à linha média. Esses termos ajudam a mapear a posição das estruturas e entender suas relações espaciais do corpo de forma geral. Os termos serão usados quando for necessário. 

Desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC)

O desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) começa cedo na vida embrionária, com a formação do tubo neural, uma estrutura oca que eventualmente dará origem ao cérebro e à medula espinhal. À medida que o embrião cresce, o tubo neural se alonga, dobra e engrossa, suas paredes formadas por células neuroepiteliais que se diferenciam em neurônios e células gliais. As células gliais, chamadas espongioblastos, e os neurônios, conhecidos como neuroblastos, emergem dessas células precursoras. O tubo neural contém um canal cheio de líquido cefalorraquidiano (LCR), que desempenha funções no SNC. Durante o desenvolvimento, a extremidade do tubo neural forma quatro protuberâncias que se transformarão nos ventrículos do cérebro, espaços cheios de LCR que desempenham papéis vitais na proteção e nutrição do cérebro. A cabeça do embrião se desenvolve no cérebro, enquanto o restante do tubo se endireita e forma a medula espinhal.

À medida que o desenvolvimento avança, o cérebro se divide em regiões específicas: prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. O prosencéfalo se subdivide em telencéfalo e diencéfalo, onde o telencéfalo inclui o córtex cerebral, a parte mais desenvolvida do SNC responsável por funções cognitivas superiores. O diencéfalo se torna o tálamo e o hipotálamo, estruturas essenciais para a coordenação sensorial e a regulação autonômica, respectivamente. O mesencéfalo permanece uma estrutura relativamente pequena, mas essencial, enquanto o rombencéfalo se divide em metencéfalo e mielencéfalo, formando o cerebelo, ponte e medula oblonga. Essas estruturas colaboram para a coordenação motora e funções vitais básicas. Com o tempo, a diferenciação celular, a formação de sinapses e a mielinização promovem a funcionalidade eficiente do sistema nervoso, estabelecendo as bases para todas as atividades neurais e comportamentais que ocorrerão ao longo da vida.

Medula Espinhal

A medula espinhal é uma estrutura cilíndrica longa e delicada que se estende do tronco encefálico até a região lombar da coluna vertebral. Protegida pelas vértebras, a medula espinhal atua como uma via para a transmissão de sinais nervosos entre o cérebro e o corpo. Além de transmitir informações sensoriais e motoras, ela também é responsável por reflexos rápidos que não necessitam da mediação do cérebro. Estes reflexos espinhais são para reações rápidas e automáticas, como retirar a mão de um objeto quente.

Dentro da medula espinhal, os neurônios motores situam-se no corno ventral, enquanto os neurônios sensoriais residem no corno dorsal. As fibras nervosas, tanto ascendentes quanto descendentes, organizam-se em tratos que transportam impulsos nervosos para e do cérebro. A organização segmentar da medula espinhal reflete-se nos nervos espinhais que emergem de cada segmento, inervando regiões específicas do corpo. Este arranjo preciso permite uma coordenação eficiente entre estímulos sensoriais recebidos e respostas motoras enviadas, garantindo a funcionalidade e a integridade do sistema nervoso periférico.

Tronco Encefálico

O tronco encefálico, composto pela medula oblonga, ponte e mesencéfalo, é uma estrutura situada na base do cérebro. Ele serve como um ponto de passagem para todas as fibras nervosas que conectam o cérebro à medula espinhal. A medula oblonga regula funções automáticas essenciais, como respiração, ritmo cardíaco e pressão arterial. A ponte, localizada entre a medula oblonga e o mesencéfalo, coordena a comunicação entre diferentes partes do cérebro e desempenha um papel no controle da respiração e dos movimentos.

O mesencéfalo, a parte superior do tronco encefálico, é responsável por funções sensoriais e motoras, incluindo o controle dos movimentos oculares e a resposta a estímulos auditivos e visuais. Lesões no tronco encefálico podem ser devastadoras, afetando funções vitais e a coordenação motora. Além de suas funções motoras e sensoriais, o tronco encefálico abriga núcleos importantes para a regulação do estado de alerta e o ciclo sono-vigília, destacando sua importância na manutenção da consciência e da homeostase corporal.

Cerebelo

O cerebelo, localizado na parte posterior do cérebro, abaixo dos hemisférios cerebrais e atrás do tronco encefálico, é uma estrutura fundamental para a coordenação motora e o equilíbrio. Composto por dois hemisférios cerebelares e uma região central chamada vermis, o cerebelo processa informações de diversas partes do cérebro e do sistema nervoso periférico para refinar movimentos voluntários, garantindo precisão e suavidade. Além de sua função motora, o cerebelo também participa na aprendizagem motora e na memória procedural.

Lesões no cerebelo podem resultar em ataxia, uma condição caracterizada por movimentos descoordenados e desequilíbrios. Essa estrutura também desempenha um papel na regulação do tônus muscular e na adaptação motora, ajustando os movimentos em resposta a mudanças no ambiente. Estudos recentes sugerem que o cerebelo pode ter funções além da motricidade, incluindo o processamento cognitivo e emocional, o que amplia nossa compreensão sobre a complexidade e a versatilidade desta importante estrutura do cérebro.

Córtex Cerebral

O córtex cerebral é a camada externa do cérebro, composta de substância cinzenta, e é fundamental para funções cognitivas superiores, como pensamento, percepção, memória e tomada de decisão. Dividido em dois hemisférios, cada um com quatro lobos principais - frontal, parietal, temporal e occipital - o córtex cerebral é o centro de processamento de informações do cérebro. Cada lobo desempenha funções específicas: o lobo frontal está associado ao planejamento e controle motor, o parietal ao processamento sensorial, o temporal à audição e memória, e o occipital à visão.

A espessura e a complexidade do córtex cerebral variam entre espécies, sendo especialmente desenvolvidas nos humanos, o que permite habilidades cognitivas avançadas. As áreas do córtex são organizadas em mapas funcionais, como as áreas de Brodmann, que delineiam regiões específicas com base em sua estrutura e função. A neuroplasticidade do córtex cerebral permite adaptações e mudanças na organização funcional em resposta a novas experiências ou lesões, sublinhando a sua importância na aprendizagem e na recuperação de funções perdidas.

Organização do Córtex Cerebral

A organização do córtex cerebral é complexa e altamente especializada, refletindo a diversidade de funções que esta estrutura realiza. O córtex é dividido em áreas funcionais distintas, conhecidas como áreas de Brodmann, baseadas em diferenças citoarquitetônicas, ou seja, na organização das células. Essas áreas incluem regiões sensoriais primárias, que recebem informações diretas dos órgãos sensoriais; áreas motoras primárias, que controlam movimentos voluntários, e áreas associativas, que integram informações sensoriais e motoras para funções cognitivas superiores.

As conexões intracorticais e corticais desempenham um papel importante na comunicação entre diferentes áreas do córtex, facilitando a integração de informações. As colunas corticais, pequenas unidades funcionais verticais, são fundamentais para a organização do processamento neuronal, permitindo uma comunicação eficiente entre as camadas do córtex. A plasticidade sináptica, ou a capacidade de modificação das conexões neuronais em resposta à experiência, é um aspecto vital da organização do córtex cerebral, permitindo aprendizado contínuo e adaptação a novas situações.

Sistemas Sensoriais e Motores

Os sistemas sensoriais e motores são fundamentais para a interação com o ambiente e a realização de movimentos. A neuropsicologia examina como a disfunção nesses sistemas pode levar a fenômenos funcionais incomuns e peculiares. O sistema motor inclui tanto componentes centrais quanto periféricos, enquanto os sistemas sensoriais abrangem a visão, audição, somatossensorial, olfativo e gustativo.

Sistema Visual: A visão é o sentido mais valorizado e dominante na percepção do mundo ao nosso redor. O sistema visual começa com o olho, onde a retina detecta estímulos visuais através de células ganglionares. Cada tipo de célula responde a diferentes aspectos do estímulo visual, como movimento, cor e forma. A informação visual é então transmitida ao córtex visual através do núcleo geniculado lateral e outras estruturas intermediárias. Lesões no sistema visual podem causar uma variedade de déficits, dependendo da localização do dano, impactando desde a acuidade visual até a percepção de movimento e cor.

Sistema Auditivo: O sistema auditivo permite a percepção do som e envolve estruturas como o ouvido externo, médio e interno, bem como vias neurais que transmitem sinais auditivos ao córtex auditivo. Os sons são captados pelas células ciliadas na cóclea e convertidos em impulsos nervosos que viajam através do nervo auditivo até o cérebro. Lesões nesse sistema podem resultar em perda auditiva parcial ou total e afetar a capacidade de localizar e interpretar sons. A neuroplasticidade permite alguma recuperação e adaptação, mas os déficits podem ser significativos e duradouros.

Sistema Somatossensorial: O sistema somatossensorial é responsável por sensações de toque, dor, temperatura e propriocepção. Receptores na pele e tecidos subjacentes detectam estímulos que são transmitidos através das vias nervosas para o cérebro. A coluna dorsal e o sistema anterolateral são duas principais vias de transmissão de informações somatossensoriais. O córtex somatossensorial primário, localizado no lobo parietal, processa essas informações. Lesões podem causar perda de sensibilidade, dor crônica ou desordens proprioceptivas, afetando significativamente a interação com o ambiente.

Sistema Olfativo: O sistema olfativo é responsável pela detecção e identificação de odores. Os neurônios olfativos localizados na cavidade nasal detectam moléculas odoríferas e enviam sinais ao bulbo olfativo. Esses sinais são então transmitidos ao córtex olfativo e outras regiões do cérebro, como a amígdala e o hipocampo, que associam odores a emoções e memórias. A regeneração dos neurônios olfativos é uma característica única deste sistema. Danos podem resultar em anosmia, a incapacidade de detectar odores, afetando a qualidade de vida e a percepção de sabores.

Sistema Gustativo: O sistema gustativo permite a percepção dos sabores através das papilas gustativas na língua, que detectam substâncias químicas nos alimentos. Os sinais gustativos são transmitidos ao cérebro através dos nervos faciais, glossofaríngeo e vago, e processados no córtex gustativo. Este sistema interage estreitamente com o sistema olfativo para a percepção completa dos sabores. Lesões no sistema gustativo podem resultar em ageusia, a perda do paladar, impactando a nutrição e o prazer alimentar.

Sistema Motor: O sistema motor é responsável pelo controle dos músculos esqueléticos e pela realização de movimentos voluntários e reflexos. Ele é composto por neurônios motores centrais e periféricos. O córtex motor primário, localizado no lobo frontal, é a principal área de controle motor voluntário. Lesões no sistema motor podem causar paralisia, espasticidade e outros déficits motores, afetando a capacidade de realizar atividades diárias. A reabilitação e a neuroplasticidade são fundamentais para a recuperação funcional após lesões motoras.

Considerações finais

E assim concluímos nosso estudo sobre Neuropsicologia, Neurofisiologia e Neuroanatomia. Mas o estudo não para por isso, é muito importante o leitor buscar na internet, e em vídeo aulas e em livros cada um desses itens para ter um entendimento mais profundo.

 


Referências

Neuropsicologia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Neuropsicologia

Neuropsicologia: da formação à aplicação prática: https://sites.usp.br/psicousp/neuropsicologia-da-formacao-a-aplicacao-pratica/

Sistema Nervoso: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_nervoso

Resumo Sistema Nervoso: https://sanarmed.com/resumo-de-sistema-nervoso-histologia-snc-snp-e-autonomo/

Neurônio: https://pt.wikipedia.org/wiki/Neur%C3%B3nio

Resumo de neurônios: https://sanarmed.com/resumo-sobre-neuronios/

Neurotransmissor: https://pt.wikipedia.org/wiki/Neurotransmissor

Neurotransmissão e Sinapse: https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/FlaviaGoulart/Aula_basica%20_SNC.pdf

Células glias: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-que-e-o-que-e-13/

Medula espinhal: https://pt.wikipedia.org/wiki/medula_espinhal

Resumo medula espinhal: https://sanarmed.com/resumo-sobre-a-anatomia-da-medula-espinhal/

Córtex cerebral: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_cerebral

Córtex cerebral: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cortex-cerebral

Sistema sensorial: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_sensorial

Sistema motor: https://en.wikipedia.org/wiki/Motor_system

 

 

Reflexões sobre escolhas na vida

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O processo

O desenvolvimento do ser humano ao longo da vida é algo fascinante de se observar, desde o nascimento até a fase final. Desde que nascemos, absorvemos conhecimentos e aprendemos com o ambiente. Alguns conhecimentos são inatos, como o choro, o sorriso e a sucção do leite materno. Nos primeiros anos, aprendemos e absorvemos conhecimentos, associando-os a diferentes aspectos para construir nossa personalidade, comportamento e muito mais.

O aprendizado se desenvolve por vários fatores, como observação, reforços e crenças pessoais. Nossa capacidade biológica se expande, abrindo mais possibilidades para nosso desenvolvimento. Assim, criamos comportamentos, personalidade e tudo o que nos define. Esse desenvolvimento contínuo molda nossa identidade ao longo do tempo. A medida que crescemos, começamos a entender e interpretar o mundo de maneiras mais complexas. A educação formal e informal contribui significativamente para a formação de nossa visão de mundo. O desenvolvimento emocional caminha ao nosso lado, influenciando cada escolha. Dessa forma, nossa capacidade de adaptação e aprendizado é continuamente refinada ao longo da vida.

Durante a adolescência, começamos a experimentar mais, buscando aprendizado, autonomia e sensações internas, moldando melhor nossa própria identidade. A escolha de uma universidade ou curso técnico, bem como a exploração de diferentes campos profissionais e empregos, são comuns para a maioria de nós. Esse período é essencial para definir nossos caminhos futuros. Essa fase é vista como um período de condicionamento de novos comportamentos, ideias e maneiras de entender o mundo. A interação com o ambiente escolar e social proporciona um contínuo guia ao nosso comportamento, com vários fatores influenciando nossas ações e decisões. O ambiente exerce um papel determinante na formação de nossas preferências e habilidades profissionais futuras.

As escolhas que fazemos moldam nosso futuro, baseadas em diferentes fatores e situações que enfrentamos. Escolhas baseadas em aceitação e aprovação em grupos podem levar à adoção de comportamentos que aumentam a popularidade ou a integração social, proporcionando satisfação. Podemos iniciar um curso ou um esporte para ganhar a aprovação das pessoas. A medida que esses comportamentos são reforçados, desenvolvemos satisfação ao alcançar metas e conquistar certos méritos. É uma fase de formação de comportamentos direcionados que continuarão na vida adulta.

Na vida adulta, certos comportamentos necessários na sociedade começam a se estabelecer, e o trabalho e a vida profissional são moldados por nossas escolhas na adolescência. Muitos outros fatores podem impulsionar a formação de novos comportamentos durante a adolescência, refletindo na vida adulta e no trabalho. A sociedade influencia significativamente a carreira profissional e a busca pela estabilidade financeira, incentivando a ascensão hierárquica no trabalho. Reforços como promoções, aumentos salariais e reconhecimento público incentivam determinadas escolhas durante a jornada de trabalho.

No âmbito dos relacionamentos pessoais, muitos jovens e adultos podem entrar em relacionamentos românticos sérios ou em aventuras. A escolha de um ou outro pode estar relacionada ao ambiente social e à satisfação que isso proporciona. Existem também causas biológicas nessas escolhas, como neurotransmissores, dopamina e serotonina, e o sistema límbico influenciando essas decisões. Os processos biológicos influenciam consideravelmente na formação de relacionamentos.

A fase dos 30 anos ou mais é uma continuidade do que aprendemos durante a puberdade e a fase inicial da vida adulta. Nela, mantemos os comportamentos adquiridos. Claro que a vida não é linear, e muitos fatores podem influenciar nosso comportamento em diferentes direções. Mesmo na fase adulta, aos 40 anos ou mais, uma pessoa pode ter uma mudança radical no estilo de vida, entendimento ou visão de mundo. Cabe ressaltar que é um processo natural, influenciado tanto pelo ambiente social quanto pelos processos biológicos.

Considerações Finais

As escolhas que fazemos não são verdadeiramente escolhas; são caminhos que seguimos com base no que nosso ambiente e no qual a biologia permite. Escolheu um curso universitário? Conseguiu um novo emprego? Saiba que essas escolhas foram baseadas em seu ambiente social, crenças pessoais e processos biológicos. E a pergunta “Eu não tenho escolhas na vida?” surge. Claro que você tem escolhas, caro leitor, mas, como disse, são baseadas em muitos fatores que ocorrem em sua vida.

 

 

Entendendo os sonhos

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Sonhar é uma das coisas mais curiosas que se pode ter. Nosso cérebro não para de funcionar mesmo quando estamos dormindo.Você está dormindo tranquilamente e sonha com alguma coisa. Isso levanta a questão: "Por que sonhei com aquilo?" Sonhar é um fenômeno muito mais complexo do que se imagina, e compreender esse processo pode ser bastante intrigante. Vamos tentar entender como os sonhos podem ocorrer.

Uma das razões pelas quais sonhamos com pessoas ou situações que vivenciamos durante o dia está relacionada à forma como nosso cérebro processa e consolida memórias, um processo complexo. Durante o dia, nosso cérebro constantemente absorve novas informações, muitas das quais são armazenadas temporariamente no hipocampo. À noite, enquanto dormimos, o cérebro reproduz e consolida essas memórias do  dia, e fortalecendo as conexões entre os neurônios. Uma das teorias sugere que o cérebro realiza essa consolidação ativando as vias neurais associadas a cada memória, essencialmente “praticando” as conexões para solidificá-las.

Essa reativação pode se manifestar em nossos sonhos, onde vemos pessoas que encontramos anteriormente, ou objetos ou até mesmo situações frequentemente em cenários bizarros ou distorcidos. É como se nosso cérebro estivesse arquivando memórias, atualizando nossos bancos de dados internos e reorganizando nossos arquivos mentais. Nosso cérebro tem uma tendência a combinar padrões, ele reconhece rostos e comportamentos familiares, o que pode levar à criação de novos cenários de sonho com pessoas que já vimos antes, criando situações curiosas e até assustadoras. Isso ocorre porque o cérebro está programado para reconhecer padrões, desde as formas mais simples até sinais complexos, e está constantemente tentando dar sentido ao mundo ao buscar esses padrões.

Pesquisas sugerem que a rede de modo padrão do cérebro, responsável pela introspecção e autorreflexão, está ativa durante o sonho. Acredita-se que essa rede esteja envolvida em tarefas como a viagem mental no tempo, onde revivemos experiências passadas, e a teoria da mente, onde imaginamos os estados mentais dos outros. Isso poderia levar à criação de cenários de sonho que apresentam pessoas que já vimos antes, à medida que nossos cérebros tentam dar sentido às nossas relações e experiências sociais.

O neurotransmissor noradrenalina, que regula a excitação e a atenção, é suprimido durante o sono REM, fase em que ocorre a maioria dos sonhos. Essa supressão pode contribuir para a natureza surreal e muitas vezes ilógica dos sonhos, onde pessoas que vimos anteriormente podem aparecer em contextos inesperados. Sonhar é muito complexo do que se espera, e isso é apenas uma parte dela.


Referências

O hipocampo desempenha um papel seletivo na recuperação de memórias contextuais detalhadas: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2928141/

Sonhos e Consolidação de Memória Desconectada: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4704085/

Rede de modo padrão: https://www.o8t.com/blog/default-mode-network

Boa noite e boa sorte: norepinefrina na farmacologia do sono: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2812689/

Neurobiologia do Sono sob uma Perspectiva Clínica: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3119826/

A linguagem, pensamento, cultura e o desenvolvimento sócio-histórico

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Ouça o artigo:

Uma das coisas mais fascinantes no ser humano é a linguagem e seu desenvolvimento. Quando falamos uma língua, concordamos que as palavras são representações de ideias, lugares, objetos e eventos. A língua que as crianças aprendem está conectada à sua cultura e ao seu ambiente. Mas será que as palavras em si podem moldar a maneira como pensamos sobre as coisas? Psicólogos têm investigado há muito tempo se a linguagem molda os pensamentos e ações ou se nossos pensamentos e crenças moldam nossa linguagem. Dentre os mais influentes, destacam-se Lev Vygotsky, Alexei Leontiev e Alexander Luria, cujas contribuições formam a base de uma compreensão histórico-cultural desses processos. Vamos abordar um pouco sobre eles neste artigo.

O desenvolvimento

Lev Vygotsky é reconhecido por sua teoria sócio-histórica, que enfatiza a importância do contexto social e cultural no desenvolvimento cognitivo. Segundo ele, o pensamento e a linguagem são inicialmente independentes e gradualmente se fundem através das interações sociais. A linguagem é um instrumento fundamental de mediação que permite a internalização de processos culturais, facilitando o desenvolvimento do pensamento abstrato e do conhecimento. Quando a criança cresce a linguagem é relacionada aos pensamentos. Vygotsky introduziu o conceito de "Zona de Desenvolvimento Proximal" (ZDP), que descreve a diferença entre o que uma criança pode fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda de um adulto ou de pares mais capazes. A ZDP demonstra como a interação social e a linguagem mediada são cruciais para o desenvolvimento cognitivo, permitindo que as crianças alcancem níveis mais elevados de pensamento e conhecimento.

O desenvolvimento dos estudos da linguagem e pensamento foi continuado pelo seu discípulo Alexei Leontiev com sua teoria de atividade. Leontiev argumentou que a atividade humana é a unidade básica da vida psicológica, na qual a linguagem e o pensamento são moldados através da prática social e cultural.  Quanto mais indivíduos têm uma prática social ou interrelações sociais, mais existe desenvolvimento da linguagem. Ele enfatizou a importância da motivação e das necessidades individuais, sugerindo que o desenvolvimento cognitivo é impulsionado pela realização de atividades significativas, o que faz o indivíduo ter um melhor desenvolvimento de conhecimento. A teoria da atividade de Leontiev destaca a importância do contexto e das interações sociais no desenvolvimento cognitivo. Ele sugeriu que o conhecimento é construído através da participação ativa em práticas sociais, onde a linguagem serve como um meio de comunicação e reflexão que mediam o pensamento e a compreensão do mundo. A linguagem é uma representação tanto do mundo externo como uma expressão de um mundo interno do indivíduo. É através da linguagem que os indivíduos podem se expressar ativamente.

Outro importante colaborador de Vygotsky é Alexander Luria, que fez significativos avanços na neuropsicologia, explorando como os processos cognitivos são mediados pelo cérebro. Luria investigou as bases neurológicas do comportamento humano, demonstrando como as funções cognitivas complexas, como a linguagem e o pensamento, são organizadas no cérebro. O seu conceitos de "sistema funcional" foi desenvolvido para explicar como diferentes áreas do cérebro colaboram para realizar funções cognitivas. E que a linguagem desempenha um papel central na organização das funções mentais superiores, mediando a formação de conceitos e o pensamento lógico. Suas pesquisas destacaram a interdependência entre o desenvolvimento neurológico e a experiência social e cultural, sugerindo que o conhecimento é construído através da interação dinâmica entre o cérebro e o ambiente social. Quanto mais se tem uma interação social em seu ambiente, mas as funções cognitivas são desenvolvidas, um importante papel para o desenvolvimento cognitivo e o conhecimento em geral.

Reflexão

A linguagem pode de fato influenciar a maneira como pensamos, uma busca por ideia, uma definição ou outros. Uma demonstração recente desse fenômeno envolveu diferenças na maneira como falantes de inglês e mandarim pensam e falam sobre o tempo. Falantes de inglês tendem a falar sobre o tempo usando termos que descrevem mudanças ao longo de uma dimensão horizontal, por exemplo, dizendo algo como “I’m running behind schedule” ou “Don’t get ahead of yourself”. Enquanto falantes de mandarim também descrevem o tempo em termos verticais, não é incomum usar termos associados a um arranjo vertical. Por exemplo, em estrutura vertical o passado pode ser descrito como 上 (shàng)  “acima”, o presente  como 中 (zhōng) como "meio" e o futuro 下 (xià) significando abaixo.

Outro exemplo muito interessante, é dos povos Pirahã, que são uma tribo que vive na Amazônia brasileiras. Eles são conhecidos como sua linguagem única e têm sido objeto de muitos estudos linguísticos devido a suas características peculiares. A língua Pirahã possui um número extremamente pequeno de fonemas, o que a torna fonologicamente simples. Não existem palavras para números e eles utilizam conceitos relativos como "poucos" e "muitos", mas não há palavras específicas para contar, algo que seja muito curioso. Vamos analisar sua cultura, os Pirahã vivem no presente e não possuem mitos de criação e não se preocupam com o futuro ou o passado além do que é necessário para sua sobrevivência imediata e isso se expressa em sua linguagem.

Conclusão

Ao refletir sobre as experiências com diferentes línguas, podemos observar como a escolha de palavras, a estrutura e até mesmo a fonética podem influenciar nosso pensamento e nossa comunicação e até mesmo nossa cultura. Cada palavra pode expressar uma riqueza de significados expressa pelos pensamentos e que podem encaixar em determinadas situações. E isso pode refletir e muito na cultura. Os estudos de Vygotsky, Leontiev, e Luria fornecem uma base importante para entendermos como a linguagem, o pensamento,  o conhecimento e a cultura se desenvolvem de forma interdependente. O que mais você pode entender em nossa cultura atual, meu caro leitor? É fascinante este entendimento sobre como a linguagem nos possibilitou muitas coisas.

Referências

Zona de desenvolvimento proximal: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/zona-de-desenvolvimento-proximal

Teoria da Atividade: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8657702

Teoria do Sistema Funcional: https://portaldapsicologia.com/2019/06/08/teoria-do-sistema-funcional-de-luria/

Povo Pirahãs: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Pirah%C3%A3




Um pouco sobre Guerras Híbridas

 


 

Ouça o artigo:

Você já ouviu falar em "conflitos híbridos" ou "guerra da informação"? Parece coisa de filme de espionagem e ficção científica, não é? Mas acredite, isso está sendo uma realidade e está acontecendo em nossa sociedade. Vamos analisar esse tema e entender o que está acontecendo em nossa sociedade.

Os conflitos híbridos são o tipo de guerra moderna que mistura várias formas de confronto, tanto militar quanto não militar. Com o desenvolvimento de nossa tecnologia, e o surgimento da computação, as guerras se tornaram algo diferente, não é mais direta em um campo de batalha e sim na base da informação. Hoje, ela envolve desde ciberataques, até propaganda na mídia social.  Vamos imaginar a situação: além dos tanques e soldados, temos hackers invadindo sistemas e infraestrutura de governos, fake news espalhando desinformação e até empresas sendo usadas como ferramenta de influência. É um tipo de grande tabuleiro de xadrez, onde cada peça tem um importante papel e o jogo é muito mais complexo do que se imagina. Parece teoria da conspiração? Sim, mas é a realidade que está acontecendo.

O termo “hibridismo” não é novo, mas ganhou um novo sentido nos últimos anos. Em tempos antigos a guerra era no campo de batalha, era confronto direito, ou era “guerra” ou “paz". Agora com toda a tecnologia, e globalização, a linha entre esses dois estados ficou bem mais borrada. Esse conceito de ” guerras híbridas" é uma resposta rápida a esse processo de guerras modernas.

Agora, vamos falar das chamadas "revoluções coloridas". Esse termo é usado para descrever uma série de protestos que ocorreram em países da antiga União Soviética, como a Revolução Laranja na Ucrânia. Esses movimentos foram vistos pela Rússia como uma forma de guerra híbrida, onde a subversão política e os protestos populares se misturam com táticas militares encobertas. Para os russos, essas revoluções são um exemplo clássico de como o Ocidente, especialmente os EUA, utiliza essas táticas híbridas para desestabilizar governos que não são seus aliados. Eles veem isso como uma ameaça direta e um novo tipo de guerra que vai além dos métodos tradicionais.

Falando na Rússia, eles têm uma abordagem bem única sobre tudo isso. O pensamento militar russo é muito influenciado pela experiência soviética. Eles desenvolveram uma doutrina que combina métodos militares e não militares para alcançar objetivos políticos e militares sem recorrer à guerra aberta. A Rússia tem usado essas táticas de forma bem eficaz, como vimos na anexação da Crimeia e nos conflitos no leste da Ucrânia. Usando uma mistura de forças regulares e irregulares, propaganda e ciberataques, eles conseguiram atingir seus objetivos sem desencadear uma guerra total.

No mundo de hoje, a guerra da informação é uma parte importante dos conflitos híbridos. É tudo sobre controlar a narrativa e influenciar corações e mentes. Com a internet e as mídias sociais, a manipulação de informações se tornou uma ferramenta poderosa e perigosa. Indo para os EUA, podemos ver eles usando todo o seu potencial informacional para influenciar a opinião pública mundial sobre a Rússia no conflito da Rússia X Ucrânia. Várias empresas de mídia e propaganda, diferentes narrativas a fim de influenciar tanto a opinião pública de fora ou de dentro da Rússia.

Então, meu caro leitor, entender os conflitos híbridos e a guerra da informação é essencial para compreendermos a dinâmica do mundo atual. Não é mais apenas sobre quem tem o maior exército ou as melhores armas, mas sobre quem pode controlar a narrativa e influenciar as mentes das pessoas. Vivemos em uma Era onde a informação é poder, e saber como ela é usada pode nos ajudar a navegar melhor por esse cenário complicado.

 


Explorando as raízes da ciência

 


Ouça o artigo:

A ciência, a doce ciência que traz luz para a nossa sociedade, a cada nova comprovação científica. Vemos que nossa sociedade se desenvolve, ou melhora, à medida que a ciência e a tecnologia se desenvolvem. Acreditamos que isso poderia proporcionar melhores direitos e oportunidades para todos nós. Ora, tendo uma sociedade com ciência e tecnologia, é lógico que isso poderia acontecer. No entanto, à medida que nos aprofundamos e entendemos os reais interesses que estão por detrás das pesquisas científicas, vemos que essas melhorias estão reservadas apenas a uma minoria de pessoas. O avanço científico, por mais impressionante que possa parecer aos nossos olhos, tem claros interesses políticos e militares por trás. A ciência sempre teve um patrocínio político e militar.

Por um longo tempo, Isaac Newton foi frequentemente retratado como um gênio singular que transformou a ciência com sua obra "Principia Mathematica". Esta obra tem um importante papel no desenvolvimento da física e da ciência em geral. Newton abordou questões fundamentais como as leis do movimento, o comportamento de corpos em meios resistentes e os princípios de hidrostática, entre outros, que são até hoje muito importantes nos estudos da engenharia.

Mas como se deu esse desenvolvimento nos tempos de Newton? Se analisarmos a época em que a Europa se encontrava, podemos entender precisamente essa necessidade do desenvolvimento científico. Durante os séculos XVI e XVII, a Europa passou por uma grande transformação. Com a dissolução do feudalismo e o surgimento do capitalismo, houve a necessidade de melhorias e inovações em várias áreas de exploração, navegação, construção e engenharia em geral.

A Revolução Inglesa teve um papel importante na vida e no trabalho de Newton, ocorrendo em um período de grande turbulência social e política. Ele testemunhou a ascensão da burguesia ao poder e sua luta contra o absolutismo e o feudalismo, que foi também a luta por uma ciência que pudesse servir aos interesses do desenvolvimento industrial e comercial da época.

E mesmo em nossa época atual, podemos ver nitidamente a ciência crescer de acordo com seus interesses, principalmente lucrativos. O investimento em determinadas áreas da ciência é frequentemente direcionado para aquelas que prometem um retorno financeiro. Mesmo em áreas como medicina, farmacêutica e saúde em geral, espera-se um retorno significativo. Muitos investidores esperam esse retorno e priorizam pesquisas que possam beneficiar economicamente, mas não socialmente, e isso é frequentemente negligenciado.

Evidentemente, isso não vai mudar facilmente. A ciência, sob o capitalismo, se torna uma ferramenta de lucro, e não um processo social que possa beneficiar a todos. A prioridade das pesquisas é determinada pelos interesses de seus investidores e não pelas necessidades da sociedade em geral. E como podemos mudar isso? Esse é um problema que devemos tratar com urgência...

 


Referências:
The Social and Economic Roots of Newton’s Principia, em russo: Социально-экономические корни механики Ньютона, em português:  As Raízes Sociais e Econômicas dos “Principia” de Newton - de Boris Hessen